Na morte de um príncipe
adelino cpires, 27.11.22
Morreu um príncipe. Há príncipes que por isto ou aquilo nunca poderão ser reis do seu reino. Porque alguém na corte não quer que aconteça. Porque eles próprios pressentem que não acontecerá. Mas mantêm a pose. Mesmo em tempos de guerra são homens de paz. São esses os verdadeiros príncipes. Mesmo que não herdem a coroa que os tornaria monarcas de um reino qualquer. Habituei-me a vê-lo marcar, correr e sofrer. Cabelos ao vento e bola na rede. E a sorrir, sorrir sempre. Mesmo que o vento soprasse ao contrário. Fernando Gomes vestiu de azul distinto e de verde maduro, a cor do meu clube. Sem nunca ter despido as suas vestes de príncipe. Ele que um dia sonhou ser rei de um trono que sabia nunca ser seu. Nascemos no mesmo ano. Cruzámo-nos algumas vezes. Ele, soberbo, na relva. Eu, anónimo, no lugar da plebe. Partiu agora cedo demais.
adelino cp
27.nov.22